terça-feira, 21 de novembro de 2017

COLO


Antonio Carlos Egypto




COLO.  Portugal, 2017.  Direção e roteiro: Teresa Villaverde.  Com João Pedro Vaz. Alice Albergaria Borges, Beatriz Batarda, Clara Jost, Tomás Gomes.  138 min.



A Revolução dos Cravos de abril de 1974 e a União Europeia trouxeram novos ventos, novas esperanças e novas possibilidades reais de avanço social, econômico e político a Portugal.  Mas a crise bateu e trouxe desalento e frustração ao mundo familiar da classe média lusitana.

As pessoas precisam de colo, mas quem há de poder dar-lhes, em momentos de dureza e restrições, impostos por uma política de austeridade, que lá, como cá no Brasil, produz desemprego, perda de direitos, roubando sonhos dos jovens e deixando a todos exaustos? 

“Colo”, da realizadora portuguesa Teresa Villaverde, é um mergulho no microcosmos doméstico que se esfacela pelo desamparo e diante da perda do direito à própria felicidade.

Quando o pai tem de viver um prolongado e desesperador período de desemprego, a mulher tem de multiplicar seus trabalhos para tentar suprir as necessidades da casa, enquanto a filha adolescente entra na fase de rebeldia e contestação.  Tudo começa a desmoronar.  Todos se distanciam, uns dos outros, e vão perdendo a capacidade de entrar em empatia com o que vive cada um.  O filme mostra o desgaste da família que produz uma incapacidade de reagir ao que quer que seja.  É destrutivo viver nesse desalento, nessa ausência de afeto, nesse desencanto diante da vida.




Teresa Villaverde se debruça também, em paralelo, na realidade próxima da adolescente e de seus amigos e de como eles enxergam a si mesmos, a seus pais e o quanto estão perdidos, sem saber como ajudar a superar a depressão dos pais.

O filme “Colo” é um contundente retrato do que acontece às pessoas quando a crise econômica se impõe e a felicidade parece um sonho distante.  É um olhar para o desamparo do ser humano.  Um olhar atento, preocupado, perplexo, não propriamente desesperançado, mas sem respostas para o momento.

O filme apresenta uma fotografia com tonalidades esmaecidas de cor.  Nas filmagens externas, sugere um fim de tarde algo cinzento e, nos espaços internos, utiliza luz rebaixada, com ambientes escurecidos e até luzes de palco reduzidas por filtros.  Isso, associado ao ritmo lento da evolução da narrativa e às performances contidas dos atores e atrizes, dá ao espectador a sensação clara de abatimento, que permeia a vida  dos personagens, independentemente de qualquer diálogo.


Teresa Villaverde


Teresa Villaverde é uma cineasta importante de uma geração que se destaca a partir dos anos 1990, renova e dá novo vigor à produção autoral do país.  Representa, também, uma leva crescente de mulheres atuando de forma intensa no cinema em todo o mundo, o que tem enriquecido e trazido novas perspectivas para a sétima arte.





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