segunda-feira, 9 de outubro de 2017

CHURCHILL


Antonio Carlos Egypto






CHURCHILL (Churchill).  Reino Unido, 2017.  Direção: Jonathan Teplitzky.  Com Brian Cox, Miranda Richardson, John Slatery, Ella Purnell.  106 min.


A produção inglesa “Churchill” não é uma cinebiografia que trate da vida desse líder britânico, cujo nome está indelevelmente marcado na história do século XX e das duas grandes guerras.  É o retrato de um momento específico e decisivo de sua vida política, em que ele estaria entre a decadência e a glória.

Esse período é o que se situa nos seis dias que antecederam a operação da Segunda Guerra Mundial, conhecida como o Dia D, em junho de 1944, em que as forças aliadas organizaram um enorme exército para recuperar o território europeu ocupado pelos nazistas e que seria um passo, arriscado mas definitivo, para a vitória final no conflito mundial.

A figura de Winston Churchill que o filme mostra é francamente desfavorável ao personagem.  Ele aparece velho, alquebrado, resistente e obcecado pelo massacre de Galípoli, na Primeira Guerra Mundial, em 1915, sem querer repetir o erro que levou centenas de milhares de soldados à morte. Preocupado com a humilhação política e o fracasso militar que já havia experimentado, surge como entrave inicial à invasão da Normandia, tendo de ser convencido por Eisenhower, e outros, de que esse passo decisivo tinha de ser feito. E, ainda, tendo que ser submetido à autoridade do rei.

Não há dúvida de que Brian Cox compõe o personagem Churchill, nessas circunstâncias, com raro talento.  A esposa, Clemmie, vivida por Miranda Richardson, está igualmente muito bem interpretada.  Ela, mostrada como pessoa forte, equilibrada, com raciocínio claro e papel determinante na situação.  Já o grande líder britânico está consumido por seus medos e obsessões, num momento deprimente da vida, quando mais se precisaria do seu claro discernimento.






Soa um pouco estranha a fixação na batalha de Galípoli da Primeira Guerra, quando a Segunda já se desenhava como amplamente vitoriosa.  Claro que a preocupação com a repetição de um possível massacre se justificava, mas a obsessão pelo passado, não.  Afinal, para chegar a esse momento da guerra, muitos anos se passaram, desde 1939, e o impacto dos embates do presente era grande demais para ficar em segundo plano.

“Churchill”, ao trabalhar um momento marcante da história por meio da realidade psíquica de um de seus personagens principais, talvez busque uma verdade, no plano interpessoal, que não tem muita cabida.  Para uma questão política dessa dimensão, esse enfoque pouco ou nada acrescenta.


Um drama individual se sobrepõe ao drama da guerra, que estava definindo os destinos da humanidade.  E, ainda que o personagem não pudesse saber que a guerra estava em seus últimos estertores, não é muito crível que Churchill não pudesse entender o sentido coletivo das decisões, numa hora dessas.  Assim, uma boa produção cinematográfica que, embora convencional na forma, poderia alcançar voos muito maiores, perde a força.



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