segunda-feira, 18 de setembro de 2017

BINGO, O REI DAS MANHÃS


Antonio Carlos Egypto




BINGO, O REI DAS MANHÃS.  Brasil, 2016.  Direção: Daniel Rezende.  Com Vladimir Brichta, Leandra Leal, Augusto Madeira, Emanuelle Araújo, Ana Lúcia Torre.  113 min.


“Bingo, o Rei das Manhãs” foi escolhido para representar o Brasil em pelo menos duas premiações internacionais importantes: o Oscar de filme estrangeiro e o Goya, espanhol.

Trata-se, de fato, de uma produção muito bem cuidada, com ótimo elenco e um personagem central que surpreende totalmente.  Afinal, Bingo é inspirado na história do palhaço Bozo, que alcançou uma das maiores audiências das manhãs televisivas, nos anos 1980.  Ou melhor, é inspirado na vida do ator e apresentador Arlindo Barreto, um dos principais intérpretes do palhaço Bozo e que se tornou, na época, o anônimo mais famoso do Brasil.  A identidade do palhaço não podia ser revelada, cláusula pétrea de contrato, e ele se apresentava totalmente produzido, mascarado, irreconhecível.

O assunto, a princípio, parece pouco atraente.  Por que o palhaço que protagonizava o programa infantil de grande sucesso na TV mereceria tanta atenção?  O que funciona bem no filme é justamente mostrar o avesso do avesso, como dizia Caetano Veloso em sua canção.

O ator que encarnava Bingo vinha de uma experiência com filmes pornô, tinha um comportamento promíscuo na vida sexual e era chegado tanto a um uísque quanto a uma carreirinha de cocaína.  Certamente não parece o perfil mais apropriado para representar o palhaço mais amado pelas crianças.

É justamente desse contraste que o filme “Bingo” extrai algumas de suas melhores cenas.  É pela sacanagem por trás do palhaço que ele funciona melhor no papel.  Sem papas na língua, sem moralismos, sem se intimidar ou pretender ser sempre bonzinho.  Em vez da caretice proposta pela marca, o improviso e a criatividade, nada ingênuos, tratando as crianças sem infantilismo ou frescura.  Sucesso total, com direito a Gretchen dançando sensualmente Conga, Conga, na atração infantil.




Essa história é bem desenvolvida no filme pelo diretor Daniel Rezende, com um roteiro muito bem engendradro, por Luiz Bolognesi (que também está, com Laís Bodansky, em “Como Nossos Pais”, em cartaz).  O principal destaque do elenco é, naturalmente, Vladimir Brichta, muito convincente como Bingo, mas Leandra Leal e Augusto Madeira têm um peso importantíssimo no filme.  Todo o elenco está bem afinado e até as participações especiais de Domingos Montagnier e Pedro Bial contribuem para chamar a atenção para a produção.

“Bingo” mostra uma boa capacidade de comunicação com o público, um atributo algumas vezes negligenciado pelo nosso cinema autoral.  Não nivela por baixo, como muitas vezes acontece com as comédidas televisivas que podem alcançar grande público nos cinemas.  É um trabalho equilibrado, que merece mesmo atenção. 

Se desta vez o cinema brasileiro será notado, ou terá algum destaque nas premiações em que o filme está envolvido, é uma outra história.  Se desta vez se fez a melhor escolha para nos representar no Oscar, não sei.  Mas que “Bingo, o Rei das Manhãs” tem muitos méritos, não tenho dúvida.






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