sábado, 8 de julho de 2017

INTRODUÇÃO À MÚSICA DO SANGUE

  
Antonio Carlos Egypto




INTRODUÇÃO À MÚSICA DO SANGUE.  Brasil, 2015.  Direção e roteiro: Luiz Carlos Lacerda.  Com Ney Latorraca, Bete Mendes, Armando Babaioff, Greta Antoine.  95 min.


“Introdução à Música do Sangue” é um exemplo de filme autoral brasileiro que, apesar de sua sensibilidade e beleza, provavelmente alcançará um número reduzido de espectadores.

No foco da narrativa, um casal de idosos vive, no interior de Minas Gerais, ainda sem energia elétrica, uma existência muito simples e pobre, bem discrepante em relação às possibilidades tecnológicas que se estabeleceram ao longo do século XX e deslancharam no XXI.  Ney Latorraca e Bete Mendes, dois intérpretes brilhantes, compõem os personagens do casal de idosos.  Ela, à espera ansiosa da chegada da luz elétrica, para poder costurar numa máquina que lhe poupe o esforço físico do pedalar mecânico.  Já ele, rejeita a chegada da energia elétrica, não quer mudar seu mundo, nem ter de pagar uma conta mensal de algo que ele julga desnecessário.




Por outro lado, há o despertar da sexualidade de menina agregada à vida do casal, quando por lá aparece um jovem peão, que vai acabar produzindo conflitos naquela vida pacata e parada no tempo. 

Angústias vêm à tona, a repressão, o desejo, o descontrole, se inserem na trama, instalando o drama e a tragédia, onde nada parecia estar acontecendo.  O que estava por vir, aflora subitamente.  O que estava represado, emerge.  O que estava contido, transborda.




O filme parte do argumento inacabado do escritor Lúcio Cardoso, com direção e roteiro de Luiz Carlos Lacerda e uma magnífica fotografia de Alisson Prodlik.  “Introdução à Música do Sangue” é todo filmado com a luz natural do dia e dos lampiões e velas acesos, à noite, o que contribui para criar toda uma ambiência poética para esse mundo rural primitivo que retrata.

A direção de arte de Oswaldo Lioi, na zona rural de Cataguazes, onde ocorreram as filmagens, nos insere muito bem naquele ambiente.  A música de David Tygel é bonita e envolvente.  E ainda se destaca a belíssima melodia de Tom Jobim, “Derradeira Primavera”, em tratamento instrumental.  Será uma pena se esse trabalho artístico de qualidade passar despercebido, enquanto tantas mediocridades comerciais alcançam cifras expressivas de público.




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