segunda-feira, 7 de outubro de 2013

MANOEL DE OLIVEIRA: UMA HISTÓRIA DO CINEMA

                         

Antonio Carlos Egypto



Manoel de Oliveira, grande mestre do cinema, é o mais velho dos cineastas em atividade.  Nasceu na cidade do Porto, em Portugal,  em 1908, quando o próprio cinema tinha pouco mais de dez anos de vida.  Sua obra praticamente se confunde com a própria história do cinema.

Uma bela homenagem ao trabalho desse grande cineasta está na exposição “Manoel de Oliveira: Uma História do Cinema”, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, até 10 de novembro, em São Paulo, já como parte das atividades da 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que se inicia oficialmente em 18 de outubro próximo.

Lá, numa série de pequenas salas, há projeções simultâneas de excertos de filmes de Manoel de Oliveira, desde os seus primeiros trabalhos, ainda no cinema mudo, como o belo documentário “Douro, Faina Fluvial”, de 1931, que já impressiona pela qualidade das imagens e sua intensa expressividade.  Lá está também a primeira ficção do diretor, “Aniki – Bóbó”, de 1942,  antecipando o neorrealismo, ao mostrar a realidade da pobreza dos meninos de rua do Porto, com imagens  não só bonitas como impactantes.  Isso é só o começo.  Trechos de seus grandes filmes, relacionados aos diversos temas presentes na obra do diretor, podem ser assistidos nas diferentes salinhas e nas projeções maiores.  De “Amor de Perdição”, de 1976, a “O Gebo e a Sombra”, de 2012, tudo está lá representado, oferecendo um aperitivo convidativo para que a gente queira conhecer mais dessa trajetória cinematográfica ímpar e original.  Para quem não conhece o trabalho do cineasta, fica um pouco difícil de se situar.  Quem já o conhece, fica querendo ver tudo, o que não é possível.



Eu fui à procura de conhecer os filmes mais antigos dele, tentar saber da censura salazarista, que podou sua criatividade por longos anos, como se vê em “A Caça”, de 1963, e descobrir novidades.  “O Pintor e a Cidade”, de 1956, foi uma dessas descobertas.  O enquadramento da pintura, sua confecção e mudanças passando aos nossos olhos constituem uma linda criação.  O universo do cineasta é extremamente rico, abarca e se relaciona com todas as artes: é literário, teatral, musical, pictórico, puro cinema.  Destaque-se ainda a relação entre documentário e ficção, já bem inovadora, nos anos 1930 e 1940.  Nada melhor para revelar tudo isso do que o material da exposição se constituir nos próprios filmes do realizador português.  Também há fotos, documentos e uma entrevista em que ele responde por que faz filmes.  O melhor é o produto do seu labor que, afinal, são os filmes que ele nunca para de fazer, desafiando a finitude da vida.

O acervo exibido é da Fundação de Serralves, Museu de Arte Contemporânea, Porto, Portugal, e a exposição homenageia seu grande amigo e divulgador no Brasil, o saudoso Leon Cakoff, criador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.


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